John Maynard Keynes

Marco Binhã/ Março 12, 2002/ Areas de Atuação, Direito Administrativo, Direito Finanças Públicas e Tributário, Direito Internacional e Comunitário

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John Maynard Keynes

A 5 de Junho de 1883, nasce na cidade de Sussex, em Tilton, Inglaterra. Filho de John Neville Keynes e de Florence Ada. O pai foi, na Universidade de Cambridge, Professor de Lógica e de Economia e aí administrador por quinze anos. A mãe, foi uma das primeiras mulheres a frequentar o ensino de Cambridge, foi, igualmente, pioneira no que trata da Previdência Social, ainda, Mayor de Cambridge e escritora.

Keynes, desde cedo fora considerado dotado de poderosas faculdades, tinha a graça na escrita, foi ensaísta, crítico de arte e, até a agricultura lhe interessava. Aos 22 anos é graduado na Universidade de Cambridge, em Matemática e é neste ano que Alfred Marshall e A.C. Pigou o têm como aluno, num curso de Economia que Keynes faz, a fim de acrescentá-lo ao seu currículo e ser melhor colocado profissionalmente. Consegue-o, pois aos 23 anos é admitido no Indian Office. Trabalhou também em Filosofia, nomeadamente em teorias sobre a Probabilidade. Uma dissertação sua fora premiada em 1908, (mas, só publicada treze anos depois. Altura em que já havia publicado dois) chamou-a A Treatise on Probability, obra com a qual, quis tornar mais consistentes as bases das Probabilidades, reafirmá-las á luz dos conceitos atuais e sistematizar o tema.

Em 1908 demite-se da sua função no Indian Office para se encarregar da cadeira de Filosofia na Universidade de King’s. Ainda no mesmo ano, quando se estava a habituar á vida de professor e decidido a dedicar-se á Filosofia, tanto, que recusa um cargo no Royal Commision on Indian Financy and Currency, aparece-lhe á porta, o velho professor, Alfred Marshall, que o convida a ensinar na Universidade de eleição da família Keynes, Cambridge. Convite que Keynes aceita, hesitando somente na desculpa a dar aos seus alunos de King’s. Em 1912 funda o Economic Journal.

Numa altura em que o mundo estava dividido e em que as partes rivalizavam para obter um maior protagonismo e benefícios económicos nas colónias — 1914 — estoira a Grande Guerra, servindo o assassinato do herdeiro do trono austríaco, arquiduque Francisco José, a servir de catalisador ao ambiente de baixa conjuntura económica que motivou o primeiro conflito mundial.

Pouco antes dos anos 20, Keynes, ainda no seu cargo académico de Cambridge e responsável, por acréscimo, da Tesouraria da mesma universidade, é consultor de várias firmas e começa a granjear fama ao seu nome que deverá ter-se tornado intrinsecamente ligado, para as empresas mais acérrimas, á epígrafe comprida e ilustrativa que eu aqui deixo «pareceres altamente necessários quanto á política de investimento da empresa».

Em 1919, quando se realiza a Conferência da Paz, em Paris, Keynes, que, como representante da British Treasury, aí tomava lugar, discorda da solução preconizada pelos outros economistas intervenientes na reunião. Sucessivamente, como que entendesse, que por mais voltas que eles dessem ao problema económico mundial — sem atenderem ao que ele, Keynes, defendia — faltar-lhes-ia o jeito para o resolverem agravando, mais e mais, a situação, pediu resignado a sua demissão. O que causou sensação, granjeando-lhe mais fama, visto que Keynes era um novato face aos outros da Conferência, velhos e experientes economistas de nomeada.

Ainda, neste ano, escreve o The Economic Consequences of The Peace, onde vaticinou o desastre económico que o mundo incorreu entre 1914 e 1945. Foi tão claro, útil e influente em certos meios, como, por exemplo, para Bernard Shaw, que esses o epitomizaram, sem exagero, de “o menino por quem Deus falou

A crise económica na Grã-Bretanha, entre 1873 e 1896, leva-a a retomar a ideia de Imperialismo e a reencontrar o ritmo económico próspero nas colónias. Mas…

Enquanto que a primeira economia socialista se edificava na U.R.S.S., o mundo capitalista experimentava, em 1929, a crise de super-produção mais grave de toda a sua história. Os países capitalistas da Europa ocidental, não conseguem, em geral, reencontrar o ritmo de expansão comercial e industrial de antes da guerra. Estava fechada a era das grandes conquistas coloniais, não havia novas terras a conquistar; o mercado do antigo Império Russo estava fechado; os Estados Unidos, fabulosamente enriquecidos pela guerra, tornam-se um importante concorrente no mercado colonial e a emergente potência protagonista do comércio mundial. A economia inglesa, essencialmente, por não poder alargar os seus mercados, sente-se estrangulada.

Em 1924, apoia, Lloyd George na iniciativa deste quanto a um programa de Obras Públicas. Anos antes tinha ele sugerido ao Governo determinados atos, que a ele se antolharam como imprescindíveis para a passagem daquela situação económica a uma de alta: dizia que, naquela conjuntura, as empresas privadas deviam ser ajudadas pelo Estado, e que, genericamente, o Estado devia intervir na economia; sugeria a desvalorização da moeda como uma medida para o relançamento dos investimentos em bens de equipamento, a fim de aumentar, por conseguinte, o salário dos trabalhadores, atenuar o nível de desemprego e fomentar o consumo; considerava que os investimentos do capital nacional em grandes empresas no exterior estavam a ser demasiadamente importantes face aos investimentos no interior que eram insuficientes.

O seu, mais reconhecido, trabalho é o The General Teory of Employement, Interest and Money, de 1936.

Foi enobrecido em 1942, pelos trabalhos prestados a nação, pessoalmente pela Rainha de Inglaterra, tornado Barão de Tilton.

Ao longo da sua vida chegou a ocupar, além dos mencionados, o cargo de Director do Banco de Inglaterra, Governador do Fundo Monetário Internacional e Governador do Banco de Reconstrução Mundial. Foi ainda, nas suas incursões na Bolsa, tão feliz que enriqueceu com especulações, chegando, também, a dirigir uma Companhia de Seguros. Durante a Guerra de 1939, foi o organizador do empréstimo compulsório, que a Inglaterra adoptou em 1941. Superintendeu, em Inglaterra, a aplicação da Lei de Empréstimo e Arrendamento, cuja base, foi por ele proposta. Tal foi a sua influência no novo Mundo que as leis de durante a Presidência Roosevelt estão impregnadas de Keynes (a l.a fase do New Deal foi, por exemplo, a desvalorização do dólar). Deveria ter sido Vice-Presidente do Conselho de Administração do Novo Banco Internacional se não fosse o seu médico a prescrever-lhe repouso absoluto, devido á latente síncope cardíaca que havia feito a sua primeira aparição na Conferência de Breton Woods[1], em Junho de 1944 e que viria a ser, a causa do padecimento de mais um vulto do séc. XX, a 21 de Abril de 1946.

Obras: Indian Currency And Financy, 1913; The Económic Consequences Of The Peace, 1919; A Treatise on Probability, 1921; A Revision Of The Treaty, 1922; A Tract On Monetary Reform, 1923; A Short View Of Russia, 1925; The Económic Consequences Of Mr. Churchill, 1925; The End Of Laissez Faire, 1926; A Treatise On Money, 1930; Essays On Biography, 1933; The General Teory Of Employment, Interest And Money, 1936; How To Pay For The War, 1940.


 

Características essenciais da sua doutrina económica

A Teoria do Multiplicador

 

Investimento Inicial

 

Em conjunturas de depressão económica, o Estado devia intervir na economia, com campanhas de Obras Públicas, por exemplo, para, propriamente, motivar o investimento dos particulares. Dada a importância desta medida, se não tivesse capitais, o Estado, deveria recorrer ao crédito externo, ou interno (aparentemente inviável dado que se o Estado não tem dinheiro será provavelmente porque se vive uma conjuntura de crise em todo o país) ou á emissão de mais moeda, causando a sua desvalorização. O que baixaria as taxas de juro. E para Keynes, é preferível taxas de juro baixas, porque as altas significam dinheiro mais caro, o que levaria os particulares a sentirem-se menos tentado a jogar dinheiro, ou a ir ao banco, procurar moeda para arriscar em investimentos, ou em grandes consumos imediatos; taxas de juro baixas, significam moeda mais barata, o que leva os particulares a procurarem mais, pois, a procura da moeda é elástica, e a consumir e investir tanto mais.

Assim, os particulares, predispor-se-iam ao investimento. Já Pigou, argumentava que os ciclos do mercado são o resultado das previsões feitas pelos sujeitos económicos, ás vezes optimistas, outras, pessimistas. Também em Keynes, o mercado, depende muito do investimento e este por sua vez depende das disposições psicológicas dos agentes económicos, que, por sinal, estão directamente ligadas á moeda e ás suas finalidades.

Keynes, formulou o conceito de Eficácia Marginal do Capital que é a susceptibilidade do capital pagar-se a si próprio e ainda dar, ao seu utilizador, réditos.

  • Emprego:

Sucessivamente, o investimento inicial teria de se repercutir no aumento dos bens de produção ou de equipamento, aumentando os postos de emprego, contribuindo para uma situação de pleno emprego.

Keynes separa, como Marx, os bens de produção em bens de equipamento e bens de consumo. Porém, é original no tocante á oferta dos bens de equipamento que tinham uma procura recíproca, pelo facto de serem feitos por encomenda.

Apesar da desvalorização da moeda, os preços manter-se-iam, quanto á oferta e á procura, directamente proporcionais. Se há mais moeda no mercado, tanto a procura quanto a oferta a adquirem em proporções simétricas, se o consumidor pode pagar mais, também pode o produtor vender tão caro, até porque se a moeda se desvalorizou teve ele de pagar os bens de produção, igualmente, tão caros. A sua teoria, que pode ser falaciosa e que é alvo de muitas críticas (o seu calcanhar de Aquiles, se calhar?), é ilustrada com uma fórmula: o indice geral de preços (P) é igual ao quociente entre a procura (Y) e oferta (O). Em que apesar da variação dos valores da fracção o valor P é sempre o mesmo.

Keynes distingue três funções para a moeda, são elas (motivada pelo rendimento) a especulação, (motivada pela liquidez) a transacção e (motivada, em príncipio, pela precaução e depois pela avareza) a poupança. Das três, a que traz maiores benefícios á economia são as duas primeiras, sendo, a especulação, a mais nobre. A última é a que põe em causa os efeitos do investimento inicial e a fluidez da passagem para um ciclo de prosperidade. Chega até o autor a explicar a depressão económica com o facto do desequilíbrio no mercado dos bens de consumo ser o resultado do valor da poupança normal correntemente maior que o valor do investimento normal.

Se houver maior propensão para a poupança, os preços serão atingidos e determinados anomalamente (tendo em consideração a fórmula P =Y/O).

Keynes quando acrescentou, ás funções da moeda a de entesouramento, fulminou a teoria de Say que dizia que a moeda era um mero intermediário geral de trocas. Keynes, depois de Walras, retirou o véu e mostrou como a moeda influencia verdadeiramente a economia (essencialmente o desemprego).

  • Oferta:

O investimento que faz aumentar o emprego. Sucessivamente, o salário dos trabalhadores e, consequentemente, o consumo, aumentará a oferta. Para este necessário aumento da oferta, teve o produtor de sentir o mercado propício para tal e, de ter os maquinismos suficientes para o acompanhar. Por isso é que esta teoria de Keynes que, neste capítulo, descrevo só se adequa, a conjunturas com as seguintes características cumuladas: economicamente depressiva, em situação de sub-emprego e com a indústria em desenvolvimento.

Se houver maior propensão para a poupança do que para o consumo, a oferta será prejudicada, no sentido dos produtores terem de vender a preços mais baixos que o custo de produção.

Ainda, Keynes, talvez, inspirado por Schumpter, explicou que os excessos de investimento eram um fenómeno que só se dariam se pelas inovações lançadas no mercado e o consequente esforço dos empresários que não as têm em arranjá-las e, talvez inspirado por Pigou, pelo retorno a um estado de confiança quanto aos negócios, os empresários, não acompanharem o aumento dos salários, ou vice-versa. Este fenómeno seria a causa mediata da depressão do produtor, que veria a sua oferta não ter procura.

  • O factor de multiplicação do investimento (K):

O K é o resultado da equação entre o Rendimento e o Investimento (K=R/I).

Um dos objectivos do particular é ter rendimento, para isso especula e para isso investe. Sendo que o rendimento exprime a relação entre os ganhos e os custos com a produção. O empresário só obtém rendimento se a relação for positiva; se a relação for negativa ele obteve prejuízo. Para ele continuar a obter rendimentos, não pode empanar este mecanismo que é um ciclo, o da teoria do multiplicador:

Investimento > emprego > rendimento > oferta > investimento

Os rendimentos serão usados para um novo investimento que reiniciará a teoria do multiplicador. Para isto, para o investimento, é que para Keynes, a especulação e o consumo são faustas para a economia. Mas este ponto, o do factor de multiplicação, revela outro ponto fraco da teoria. Pois os particulares podem investir o seu rendimento no exterior do país, ou podem entesourá-lo, ou dar-lhe fins que constituem desvios à mecânica do Multiplicador. Altos rendimentos podem não se traduzir em investimentos no país, o que acarretaria todos imbróglios que Keynes quis resolver, com as suas teorias que desde a elaboração, visam um mundo melhor.

As críticas que fazem ás suas teorias, a maioria delas, ele as previu. Essas incidem sobre os pontos que, na teoria de Keynes, são suscetíveis de serem resolvidas, apenas dependentes das disposições psicológicas dos particulares, em que podemos salientar o sentido das responsabilidades dos mesmos na sociedade.

As teorias de Keynes, não trazem soluções intemporais e a-espaciais, são adequadas somente a específicas conjunturas com específicas condições. Há quem, baseado nestas especificidades e condicionalidades, tenda a criticar o carácter macro-económico das teorias keynesianas — críticas estas que dependeriam do que os seus autores entendessem por macro-economia. Porque se entendermos que macro-economia é uma grande complexidade de agentes e de relações económicas… tudo será economia.

Bibliografia:

  • “Collier ‘s Encyclopedia “, tomo 14; pág. 59 á 61; Macmilan Educational Company;

  • “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira “, tomo XIV; pág. 450; Editorial Enciclopédia, Lda.;

  • Denis, Henry — “História do Pensamento Económico”; págs. 599 e da 694 á 699 – Editorial Gleba/Livros Horizonte;

  • “Activa Multimédia – Tomo 5, págs. 176 á 193; Lexicultural, 1996;

  • Martinez, Soares — “Manual de Ciência Política I’; págs. 275 á 288; Lisboa,

[1] Foi nesta conferência que os E.U.A. propuseram o ouro como padrão monetário referencial. Eles que detinham, nada mais nada menos que 85% da reserva mundial de ouro. Resta-me referir que a proposta deles vingou.

[2] Em príncipio quis agregar a este (procura) o título precedente (emprego).